Amados,
Muitos pensam que a raiva é um instinto fundamental relacionado com o
ser humano, e esta percepção é tanto correta, quanto incorreta. A raiva
é uma conseqüência da necessidade do ego de criar a auto-proteção, uma
vez que a proteção Divina não mais parecia estar disponível ou presente.
O ego, instituído como o agente interno da autoproteção e do
autocontrole, quando confrontado com o desamparo, procura recuperar o
poder e o controle, através da liberação da poderosa energia da raiva,
que mobiliza as defesas próprias contra um inimigo ou ameaça percebida.
Neste sentido, a raiva é um agente de mobilização que tenta assegurar
que se seja bem defendido e protegido dos danos.
Entretanto, a raiva como uma defesa contra o desamparo, não é a
definição do que significa ser humano, exceto no nível em que o ego se
presume como a autoridade sobre o que é esta definição. Enquanto as
almas encarnadas evoluem durante o seu tempo na Terra, uma nova
definição de “ser humano” entra em jogo, uma definição que tem mais a
ver com o relacionamento com o Espírito do que com o ego. De acordo com
esta transição, uma nova maneira de lidar com o desamparo precisa ser
buscada, de modo que o desamparo não seja trazido ao ego como o árbitro
da proteção, mas sim levado à Deus como a Fonte de proteção.
Esta transição em lidar com o desamparo redefine a base sobre a qual se
encontra a raiva. Pois se o desamparo pode ser levado à Deus como a
Fonte de proteção, então a raiva não tem mais base para existir.
Infelizmente, ainda que simples de dizer, isto é muitas vezes difícil de
fazer. Pois muitos temem abrir mão da medida de controle e da
auto-capacitação que a energia da raiva oferece aparentemente. Que há um
preço a pagar para o uso desta energia nem sempre é percebido, pois só
se pode gerar conflito através do uso da raiva como uma defesa, e não se
pode gerar a paz. E, além disto, não se pode gerar a verdadeira
segurança através da raiva, pois no próximo aparecimento do medo ou do
desamparo na vida, a raiva se manifestará novamente.
Por esta razão, aqueles que estão se movendo ao longo de um caminho
espiritual, precisam buscar uma nova forma de lidar com o desamparo, uma
maneira que permita que o desconforto e até mesmo a dor do desamparo
sejam sentidos, mas que sejam sentidos dentro de um contexto sagrado de
Amor Divino. Manter o desamparo em si mesmo, cria frequentemente a
ansiedade, a angústia e o medo do futuro, especialmente quando as
energias da oposição e da separação ampliam estes sentimentos. Este não
é o caso quando se leva o desamparo à Deus, pois então se pode receber o
fortalecimento que decorre de manter o desamparo no amor, em troca da
dádiva da confiança, da esperança e da entrega.
Muitos, no entanto, não confiam ainda neste acordo. Eles temem o
desamparo e se sentem sozinhos com ele. Eles não se lembram de como
levar o desamparo à Deus e assim, eles aprovam a única defesa que eles
conhecem, o que cria uma maior sensação de capacitação, ou seja,
tornam-se irritados. Amados, esta defesa não é uma defesa real. É um
disfarce sobre o medo, do tipo mais frágil. Pois mesmo que se esteja com
raiva e em um momento seja reduzida a sensação do medo e do desamparo,
no momento seguinte estes sentimentos irão retornar quando a vida se
apresentar com condições semelhantes, levando a se sentir impotente
novamente.
A maneira de levar o desamparo à Deus é a maneira de levar a própria dor
a este Coração Divino que pode mantê-la junto ao coração humano. Ao
mesmo tempo, pode-se pedir para se sentir sustentado e apoiado através
da experiência, sabendo que nenhuma experiência chega ao ser que não
tenha uma dádiva maior de aprendizado nela. Deve-se experienciar isto
para saber a verdade disto. Muitas vezes acontece, no entanto, por causa
dos anos e existências de separação percebida, que durante muito tempo
não há suficiente confiança ou disposição para lidar com o desamparo de
outra forma que não seja a de assumir o controle de si mesmo.
Nisto reside a escolha em relação à raiva e ao desamparo hoje, ou seja,
se alguém tomará uma decisão sobre como “estar” com estes sentimentos a
partir da perspectiva da alma, ou se irá escolher perspectiva do ego. A
escolha do caminho da alma não é através do controle, mas através da
entrega, e isto é uma escolha que cada indivíduo deve fazer, de acordo
com a sua disponibilidade de liberar o controle em favor de algo muito
mais vasto e seguro.
Neste momento, muitos estão enfrentando esta escolha entre o alinhamento
com a alma ou com o ego humano. Quando a alma for escolhida, a raiva irá
desempenhar menos e menos participação na experiência humana, enquanto o
amor e o desejo da real unidade com Deus e com os outros, desempenharão
um papel cada vez maior, chegando a ser o motivo dominante que
reorganizará para sempre o cenário emocional interior.
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