Mandalas na visão da Psicologia Analítica Edgar Nefreiki
As
mandalas foram conhecidas no mundo ocidental, cristão, somente em época recente,
graças ao interesse pela tradição religiosa-espiritual e esotérica sobre o mundo
oriental. As pesquisas de Jung sobre o simbolismo das mandalas contribuíram para
torná-las acessíveis ao público ocidental. Foi quando se identificou uma relação
entre o material espontâneo dos sonhos dos indivíduos que atravessavam crises
interiores e os estranhos símbolos encontrados nos desenhos mandálicos.
O
tema mandala é observado nas obras básicas e complementares de Jung (1875-1961).
Nesse sentido, o fundador da psicologia analítica recorreu à imagem da mandala
para designar uma representação simbólica da psique.
Chevalier e
Gheerbrant observam que o pesquisador suíço e seus discípulos verificaram que as
imagens são utilizadas para consolidar o ser interior ou para favorecer a
meditação em profundidade. Explicam que a contemplação de uma mandala pode
inspirar a serenidade e ajudar a reencontrar um sentido e ordem na vida.
Verificaram que a mandala
produz o mesmo efeito quando aparece
espontaneamente nos sonhos do homem contemporâneo que ignora essas tradições
religiosas orientais. Explicaram os autores mencionados, ainda, que as formas
redondas das mandalas simbolizam, de maneira geral, a integridade natural,
enquanto a forma quadrada representa a tomada de consciência dessa integridade.
Em sonhos, o disco quadrado e a mesa redonda podem se encontrar, anunciando uma
tomada de consciência iminente do centro. Jung verifica que a mandala possui
dupla eficácia: conservar a ordem psíquica, se ela já existe; ou restabelecê-la,
se ela desapareceu. Neste último caso, exerce uma função estimulante e
criadora.
Diz Jung:
” [...] as mandalas não provêm
dos sonhos, mas da imaginação ativa [...] As mandalas melhores e mais
significativas são encontradas no âmbito do budismo tibetano [...] Uma mandala
deste tipo é assim chamado “yantra”, de uso ritual, instrumento de contemplação.
Ela ajuda a concentração, diminuindo o campo psíquico circular da visão,
restringindo-o até o centro.”
“Este centro não pensando como sendo o
“eu”, mas se assim se pode dizer, como o “si mesmo”. Embora o centro
represente, por um lado, um ponto mais interior, a ele pertence também, por
outro lado, uma
periferia ou área circundante, que contém tudo quanto
pertence a si mesmo, isto é, os pares de opostos, que constituem o todo da
personalidade.”
E é nesse contexto que Jung, na obra citada, verifica que
o centro, primeiramente, pertence à consciência, depois, ao assim chamado
inconsciente pessoal e, finalmente, a um segmento de tamanho indefinido chamado
inconsciente coletivo, cujos arquétipos são comuns a toda humanidade. Jung
utilizou as mandalas como instrumento conceitual para analisar e assentar as
bases sobre as estruturas arquetípicas da psique humana. O autor considerava que
o comportamento humano se molda de acordo com duas estruturas básicas da
consciência: a individual e a coletiva. A primeira se aprenderia durante a vida
em particular; a segunda se herdaria de geração em geração.
Jung observou também que a mandala oferece
desenhos pintados, configurações plásticas ou dançadas. De outro lado, como
fenômeno psicológico, aparece de maneira espontânea em sonhos e em certos
estados conflitivos e até psicóticos. A ocorrência espontânea em indivíduos
permite à investigação psicológica um estudo mais aprofundado de seu sentido
funcional. Jung ainda sinaliza que a mandala pode aparecer em estados de
dissociação psíquica ou de desorientação. E que, quando existe um estado
psíquico de desorientação, devido à irrupção de conteúdos incompreensíveis do
inconsciente, observa-se tal imagem circular, a qual compensa a desordem e a
perturbação do estado psíquico: “Trata-se evidentemente, de uma‘tentativa de
autocura da natureza’”.
Por isto, Moacanin explicita que Jung observou
que as mandalas surgem espontaneamente quando a psique está em processo de
reintegração, em seguida a momentos de desorientação psíquica, como fator
compensador da desordem. Portanto, Jung entende a mandala como uma tentativa de
autocura, inconsciente, a partir de um impulso instintivo, no qual o “molde
rigoroso” imposto pela imagem circular com um ponto central, compensa a desordem
do estado psíquico. Conclui o autor que a mandala é um arquétipo da ordem, da
integração e da plenitude psíquica, surgindo como esforço natural de
autocura.
Dentre os arquétipos, o mais importante é justamente aquele que
Jung chamou de Self ou Si-Mesmo. O Self expressa a totalidade do homem e aparece
sob diferentes aspectos, um dos quais é a mandala. Como vimos em outros artigos,
a mandala é utilizada pelos orientais como um meio para favorecer a meditação
profunda, a fim de alcançar a paz interior.
A propósito, recordamos, como se indicou
anteriormente, que Jung adotou a expressão sânscrita mandala para descrever
desenhos circulares que fazia com seus pacientes, associando a mandala com o
Self, o centro da personalidade como um todo. Neste contexto, Fincher afirma que
Jung, em suas pesquisas, mostrava o impulso natural para vivenciar o potencial
humano e realizar o padrão da personalidade genuína. Por essa razão, Jung
chamava esse impulso natural de “individuação”.
Na procura de uma relação
entre as mandalas do mundo oriental com o ocidental, Von Franz afirma:
”
O círculo (ou esfera) como um símbolo do “Self” expressa a totalidade da psique
em todos os seus aspectos, incluindo o relacionamento entre o homem e a
natureza [...] ele indica sempre o mais importante aspecto da vida: sua extrema
e integral totalidade.”
Nesse sentido, entre as duas culturas, oriental e
ocidental, o círculo de quatro ou mais raios corresponde a um padrão no mundo
oriental, ligado a imagens religiosas que servem de instrumento e meditação:
círculos abstratos que também representam o esclarecimento, a iluminação e a
perfeição humana, e, de outro lado, no mundo ocidental, as mandalas aparecem
como rosáceas das catedrais cristãs, e relacionadas, psicologicamente, ao Self
como a totalidade, na psicologia analítica.
Tem-se ainda exemplos de
mandalas como padrões da totalidade, encontrados, inclusive, na própria
natureza, como testemunho de que realmente existe uma unidade que se manifesta
em simples relações proporcionais. Essas relações de proporções criam diversos
padrões de totalidade fornecendo forma tangível à ordem intangível. Os exemplos
na natureza são marcantes, ou seja, pode-se observar o padrão de mandala no
caule de uma flor, como a papoula, quando aumentamos sua imagem mil vezes, ou
nas dicotamáceas, quando as aumentam quatrocentas e cinqüenta vezes, e o padrão
de mandala se repete no caule de um lírio, com aumento de cento e vinte vezes.
Esse padrão de mandala pode, inclusive, ser visto de forma nítida quando criado
em um líquido por vibrações harmônicas.
Pode-se afirmar que “as mandalas se
encontram igualmente na raiz de todas as culturas e estão presentes em
todo
ser humano como padrão arquetípico de comportamento”.
Jung, estudando as
mandalas e sua manifestação no mundo oriental como instrumento de culto e de
meditação, passou a desenhá-las. Observando-as no mundo ocidental, descobriu o
efeito de autocura que elas exerciam, inclusive em si mesmo.
Em seguida,
passou a utilizá-las como método psicoterapêutico. E conclui que esses círculos
mágicos da tradição cultural oriental, hinduísta ou budista, eram representações
instintivas de um símbolo universal desenhadas desde os primórdios da
humanidade.
Concluindo, a mandala, nas tradições culturais hinduísta e
budista-tibetana, aparece como instrumento de concentração mental. O termo
mandala, em sânscrito, indica “círculo” e ocorre para designar, de maneira
genérica, uma figura circular, esférica, o círculo em um quadrado e vice-versa.
Foi Jung que introduziu o conceito de mandala na psicologia analítica como
imagens representantes do Si-mesmo, em outras palavras, reconheceu que esses
desenhos eram representações simbólicas da totalidade da psique. Jung
interpretou como uma expressão da psique e, em particular do Self. As mandalas
podem aparecer em sonhos ou em pinturas durante a análise junguiana, ocorrendo
mais provavelmente em estados de dissociação psíquica ou de
desorientação.
Portanto, as mandalas podem expressar um potencial para a
totalidade, como procede nas tradições religiosas hinduísta e budista-tibetana,
podem ser empregadas como instrumento de concentração e como um meio para unir a
consciência individual com o centro da personalidade. Elas também podem
funcionar como proteção para indivíduos que estão fragmentados, em que a ordem
rigorosa da imagem circular compensa a desordem e a perturbação do estado
psíquico.
Texto baseado no artigo de Monasila Dibo: “Mandala: um estudo na
obra de C G Jung”.
* Esta Instrução está disponível para o benefício de
toda a Humanidade. Porém, se for copiar, por gentileza, respeite os
créditos:
Fonte: TEMPLO DO SOL
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