Aline e as Flores - Capítulo 2 (Inspirada por Lady Nada)
Estava um cheiro muito forte no lugar escuro em que Aline acordou, parecia o porão de sua casa, a não ser pelos odores. Quando ela levantou a cabeça, percebeu que o teto era muito baixo, mal podia se erguer completamente.
- Mãe?
Mãe? A senhora está aí em cima? Por que eu estou aqui? – perguntou a menina um
pouco confusa. Aos poucos ela foi lembrando que estava com Rubi antes de
acordar naquele lugar. “Rubi, menina, está aí? Vem, Rubi, vem, Rubi...”. Foi em
vão, porque ninguém respondeu.
Aline
sentou-se e lembrou-se do que sua mãe tinha falado a ela quando seu amigo Káki,
o passarinho, tinha morrido por comer um lagartinho venenoso. Naquela ocasião,
depois de dias que o passarinho estava doente, a mãe de Aline pegou o corpinho
de plumas amarelas com pontinhas verdes, levantou sua cabecinha azul anil e
disse: “Querida, veja o nosso amado, não é porque não se mexe mais que não
podemos amá-lo e carrega-lo dentro de nossos corações. Não chore, filha
minha... sempre que se sentir assim, faça uma oração ao Bom Deus, cante para
exprimir suas emoções e lembre-se que há vida e amor em tudo, lembre-se que o
que rege a vida é o amor, mas não permita seu coração ser abatido pela tristeza,
cante com a tristeza, torne-a sua amiga, pois a tristeza procura um amigo para
voltar a ser alegre...”
Foi o
que Aline fez, sentada levantou sua cabeça e começou a orar em canto crescente.
Oh, Lindo Sol, que me abraça todas as manhãs,
Junto com o perfume das rosas, que me
Embebedam de amor por tudo que
Tenho e recebo do grande senhor!
Flores macias, lindas e cheirosas!
Faço-me uma de vocês, neste caminho
Rodeados de arvores e pedras/rochas.
Lá-lá-lá-lá, eu quero cantar. Lá-lá-lá-lá, eu quero cantar!
Subindo eu vou alegre e cantante,
Pela estrada de arvores, pedras e flores,
Com meus amores, pelos meus amores!
Lá-lá-lá-lá, eu quero cantar,
Cantar e agradecer,
Por tudo que eu sou, e ei de ser!
Oh! mais belo ser que a viiidaaa nos dá,
Levante-se todas as manhãs, pra com o sol conosco brilhar,
Amados da natureza, que refletem o amor,
O amor do amado ser, que sempre conosco vem alegrar!
Cantam os pássaros a linda melodia,
Espero eu um dia desfazer-me em amor,
A juntar-me a vós e o amor espelhar!
Lá-lá-lá, eu quero cantar, livrar-me de todas as dores, e viver feliz a
cantar! Lá-lá-lá
Enquanto
Aline cantava, percebeu que alguém se aproximava; em sua mente era algum
animal, pássaro ou amigo que se chegava para cantar com ela, seu coração estava
tão inundado de alegria que não deu muita atenção à figura estranha que se
encontrava a sua frente.
- CALE
A BOCA!!! – Vociferou o vulto escuro para a garota que deu um salto assustada.
Nunca antes alguém tinha falado assim com ela em sua casa ou entre amigos. Após
um tempo sem entender o que se passava, Aline procurou uma reação e disse:
“Olá, senhor, desculpe se meu canto incomoda, mas é a forma que eu encontro
para acalentar meu coração, como minha mãe me ensinou”.
- AHAH
AHA AHAHA!!! AHAHAHAHA! VOCÊ É MESMO ENGRAÇAAAADAAA!!! – gritou a figura com um
ar de arrogância. Aline também riu, seu riso era tão suave como o perfume das
flores, ela estava acostumada a retribuir um sorriso com sorriso, uma risada
com risada e assim o fez.
Avulto calou-se imediatamente com aquela doce risada e foi em direção da
menina, mas não pode encostar-se a ela, pois havia uma grade que os separava,
ele apenas disse: “Quero ver quanto tempo dura a sua bondade dentro dessa
jaula, quero ver se sua bondade vai resistir aos dias de escuridão que ficará
trancafiada aí!!! AHAHAHAHAHA”.
Aline
começou a se preocupar com o que estava acontecendo, ela notou que estava
sentindo um frio estranho pelo corpo, percebeu seu coração acelerado e uma
vontade de se encolher ali onde estava e não se mexer, até toda aquela situação
acabar. Ela encostou sua cabeça no chão, virou-se e deixou lágrimas escorrerem
em seu rosto. Ficou abraçada ao seu próprio corpo como um bebê até sua
respiração acalmar e voltar ao normal. Depois de um suspiro percebeu um
movimento na cela, bem ligeiro, parecia um pequeno animal correndo.
- Olá!
– disse um lindo ratinho branco.
- Olá,
senhor ratinho, como vai? – responde Aline
- Muito
bem, querida, como não poderia estar? – Na cabeça de Aline mil coisas se passaram
depois da resposta do ratinho, lembrou-se de sua casa, de sua mãe, da Rubi e
disse:
- Estou
muito triste, estou longe da minha família, quero minha casa.
- Você
está em casa! O seu coração não é a sua casa? Não foi assim que sua mãe te
ensinou? – Aline não entendeu bem como o ratinho sabia desse ensinamento,
presumiu logo que era algum amigo de sua mãe.
- Eu
sei disso, mas sinto falta de minha família – respondeu Aline com pesar.
- Você
logo verá a sua família, confie nisso, confie no Bom Deus, você não sente isso
dentro de si? – disse o ratinho muito confiante.
-
Sinto, sinto que logo tudo irá se resolver, sempre dá tudo certo, não é? – respondeu
ela com mais entusiasmo.
- Sim,
sempre dá. Agora a pergunta é: “Como você veio parar aqui? O que você estava
fazendo antes de vir para cá?”
- Eu
estava entregando flores.
-
Então, minha cara, continue entregando flores...
Nesse
momento, ela respirou fundo e sentiu um profundo sentimento no coração, ela já
havia sentido antes, mas não com tanta força. Desse sentimento surgiu um belo
sorriso no rosto molhado de Aline.
Comentários
Postar um comentário